Friday 18 June 2010

Ficou-me atravessada

...o raio da conversa sobre a selecção francesa de futebol. Citou o Sarkozy quando disse que a França não se revia na sua selecção de futebol devido à diversidade étnica (tem africanos e árabes e até ETs, se não me engano); e que tinha, pura e simplesmente, por convicção que aquela 'selecção' de indivíduos não representava os Franceses. Eu sou fervorosamente contra este tipo de posições, por três razões muito simples:


1) Sarkozy é o presidente de TODOS os Franceses, por isso devia ser o primeiro a não apontar etnias e credos;

2) Há franceses brancos, pretos e amarelos, que adoram Jesus, Ganesh e Alá; há filhos de Argelinos e filhos de Senegaleses que nasceram em França, ali foram criados e muitas vezes nem sequer puseram um pé em solo Africano. Porque raio se há-de negar que a identidade nacional e cultural destas pessoas é Francesa?! Obviamente, muito do que somos aprendemos com os pais e restante núcleo familiar, mas a escola, as actividades de lazer, a cultura francesa não escapa certamente a estas pessoas, não? A FRANÇA É UM PAÍS DE IMIGRANTES! GET. OVER. IT.

3) É preciso uma dose obscena de lata para um país como a França se indignar com presença deste vasto número de 'estrangeiros', como se tratasse de alguma espécie de contaminação. A França teve um vasto império colonial que chegou practicamente a todos os continentes. Contaminadora foi a França, séculos a fio! A colonização foi um processo bárbaro e brutal que instrumentalizou a opressão, a violência e a escravidão de povos; quero com isto dizer que a França tem uma história repleta de invasões e barbárie. E agora o Sarkozy fica cheio de alergia por causa das comunidades de imigrantes (mesmo os de segunda e terceira geração) a infiltrar essa preciosa minoria de franceses brancos e católicos (e, já agora, devidamente munidos de boina na cabeça e baguette debaixo do braço)! 



Dizia eu 'mas eles nasceram em França, cresceram em França, este é o país deles'. Não adiantou de nada. O problema continua a residir no facto de serem pretos ou muçulmanos, mesmo que não se queira admitir. Até quando vamos andar nisto?! Depois gramamos com palermas como o Deco, o português mais contrariado que aí anda,  que tem tanta afinidade com Portugal como com a Gronelândia-de-Cima. Ser branco neste mundo globalizado: priceless.





EDIT: e mais - o que esta selecção pode, no máximo, não fazer, é representar as expectativas, ou o estereótipo, ou a concepção que o Sarkozy (e o meu interlocutor nesta conversa) tem e faz sobre o o que é a França. Estas expectativas não adiantam absolutamente nada, afinal a França já não é só mulheres magrinhas a fumar de boquilha e baguettes com brie nos cestos das bicicletas; a França agora é mesmo isto, um melting pot como é Londres ou Nova Iorque, é ir na rua e passar por mulheres de sari, por mercearias de bangladeshis e cafés cheios de algerianos a fumar shisha. Agora a França é assim, por isso, talvez esta selecção represente muito bem a diversidade que presentemente caracteriza a sociedade francesa.

Wednesday 16 June 2010

A subjectividade

Tenho ganas de compreender como é que, desde os anos 90, nos viramos tanto para nós mesmos. Reparem: desde então, tornámo-nos sedentos sobre o que se passa na esfera privada de indivíduos comuns, papamos desalmadamente reality shows, talk shows pejados de confissões sórdidas, revistas cor-de-rosa, etc, etc, etc. O que é que obter informação sobre a vida dos outros acrescenta à nossa? Eu própria faço-o também (basta que vejam o meu post anterior...), mas continuo sem compreender porque é que o faço. Tenho, contudo, as minhas suspeitas:

a) Já ninguém acredita em Deus nem no Pai Natal;
    É possível que tenhamos chegado a um extremo miserável do que foi outrora o humanismo; tudo o que está à nossa volta, bom ou mau, foi construído graças à visão e ciência do Homem, logo, está cada vez mais difícil encontrar alguém que se veja como um elemento passivo num desígnio divino favorável. Assim sendo, e já que afinal os heróis somos nós todos, é possível que vejamos em pessoas iguais a nós (e às vezes piores ou muito piores que nós - sim, Marco do Big Brother, estou a falar também de ti) uma espécie de referência.

b) Procrastinação ou a Arte de Adiar  Fazer o Que Tem Que Ser Feito;
    Por outras palavras, 'marxismo'. Diz a teoria Marxista que o entretenimento serve para nos toldar a razão, para nos emudecer perante a opressão do capitalismo. Não fazendo caso do radicalismo do Sr. Bigodes, acho que os Media demonstram ser muito conhecedores do consumidor; muitas vezes farto dos problemas do trabalho, chega a casa estafado de pensar em orçamentos, em facturas, em notas de encomenda e com a cabeça ainda a latejar da última rabecada do chefe, por isso, que melhor consolo haverá do que ver o programa mais estúpido que aparecer? Ou seja, o consumidor/espectador dificilmente chega a casa e procura informação (para dados objectivos, comparar audiências da TVI e RTP2), quer é esparramar-se ao comprido e ver a senhora que nasceu  sem braços e sem pernas no programa da Oprah. O extraordinário, suponho, em vez de nos inspirar, confronta-nos com a nossa própria mediocridade, da mesma forma que o ordinário estabelece uma ideia de normalidade na qual nos encaixamos facilmente - isto assegura-nos que tudo vai bem com a nossa vidinha. Ou seja: os senhores que puxam os cordelinhos nos Media são mesmo espertos e topam-nos a milhas: com estes programas e estas revistas, tratam-nos como bebés pequeninos: põem-nos à frente de um espelho e nós ficamos rendidos, horas a fio, a brincar com a (nossa) imagem reflectida à nossa frente.


Isto tudo porquê?

Isto tudo porque hoje fui comprar uns cremes (quando me pareceu que o meu Clinique para a cara estava a esvair-se de dia para dia, fiquei a saber que o que faltava no boião estava na cara do namorido), e enquanto procurava o que queria, fui interpelada por uma funcionária da loja a oferecer-me uma amostra de um anti-celulítico, acompanhado das devidas instruções de uso "passa nas pernocas, esfrega no rabiosque". Até aqui, no problem, só foi chato é que hoje acordei com tal bravado que me fiz à rua de vestido curto, num exercício de auto-aceitação e com esperanças de apanhar uma corzinha. E depois vem ela sugerir que eu tenho um problema ao oferecer-me uma solução para ele. Eu preciso é de um milagre, filha! E já agora, se não for muito inconveniente, que não me lixem a cabeça por causa das 'pernocas' e do 'rabiosque'. Mas, como dizia, isto tudo porque, considerando este espisódio, me questionei sobre qual seria, realmente, o interesse de falar sobre isto no blog. Tipo, who cares? Possivelmente, absolutamente ninguém, mas a verdade é que um blog é um espaço de subjectividade (logo, de voyeurismo?). Por isso é que é legítimo vir para aqui dizer que hoje passei pelo recreio do infantário na Àlvares Cabral e dois meninos, dois mini-snipers de bata aos quadradinhos, me atingiram a tiro invisível com as suas mãozinhas em posição de pistola, e que depois, tendo sobrevivido a tal ataque, vi aquela anedota daquele jogo de futebol num tasco no Bairro Alto.



Um dia destes, e ainda a propos deste assunto, falo-vos de um artista que eu adoro, adoro, adoro, que se chama Richard Billingham. Para já, deixo-vos para aqui uma imagem do seu livro 'Ray's A Laugh' (que está ali na minha estante, o que largamente contribui para a minha felicidade), para irem pensando sobre o assunto, se vos der para isso.

Wednesday 9 June 2010

Blogs e assim

Confesso, tenho um desejo ardente de dizer duas ou três coisas sobre as o que ando a ler. Há pouco mais de um ano atrás carregava uma respeitável lista de livros atrás de mim - ele era Homi K. Bhabha, ele era Gerardo Mosquera, ela era Theodor Adorno, enfim, uma panóplia de nomes que qualquer estudante de arte contemporânea tem sempre na ponta da língua e que cita sem parar e a torto e a direito.

Mais recentemente, contudo (assim tipo ontem), dei-me conta que já não são bem estes nomes ilustres que me têm passado à frente dos olhinhos. Tenho lido muito lixo. Ou então não é lixo, são só coisas fáceis, e que leio na internet; não tenho que pensar, não aprendo nada com isso, apenas gosto.  Tipo isto:

A Pipoca Mais Doce (http://apipocamaisdoce.blogspot.com) - Embirro com o nome do blog, que me parece um bocadinho dondoca quando, a meu ver (eu sei que não falta quem discorde), o conteúdo do blog é super engraçado e claramente bem escrito (nada como este, que eu não sou jornalista). Obviamente, é um conteúdo quase inteiramente orientado para um público feminino que perde umas horas por dia a pensar em/fazer coisas de gaja, tipo comprar sapatos (ou à falta de capital, pensar em comprar sapatos ou mesmo babar copiosamente para cima da montra da Fashion Clinic com um ar sonhador) e vernizes ou comentar a aparência das outras, por exemplo. Há também duas rubricas engraçadas, uma em que ela fala dos preparativos para o casório (ideia a que geralmente sou alérgica e que, vindo de qualquer outra pessoa me aborrece de morte) e, principalmente, o hate mail que ela recebe, do mais ressabiado que há. É lindo! E tudo isto, como já disse, muito bem escrito, com muita graça e com um tom irónico que salva todo este blog da pura imbecilidade. Eu gosto!




Karla's Closet  (www.karlascloset.com) - Mais um blog de moda de uma miúda californiana muito cheia de oomph. Pouco expansiva, não diz muito, mas expressa-se muito nas fotografias onde, na maior parte das vezes, enverga belíssimas selecções vintage. Tem um ar de outros tempos que eu adoro e, em síntese, muita, muita classe. É, tal como a blogger seguinte, uma lembrança de que há um elemento-chave na moda que é também importantíssimo nas artes visuais: a composição.  (Hi Karla, if for some reason you bump into this text - since it's got your name on it - and find only a bunch of portuguese gibberish, I'm only using your photo and mentioning you because I'm telling people you're awesome. Hope you don't mind, but if you do, I'm happy to edit this.)



Sea of Shoes (seaofshoes.typepad.com) - Uma texana de 16 ou 17 anos com um bom gosto irrepreensível e muito, muito criativa. No início o tema do blog focava-se mais nos sapatos (alguém que me explique esta obssessão da qual padecemos todas, por favor, fundamentado por teoria freudiana, ou assim!) mas agora aborda mesmo o conjunto todo. Digamos só que, enquanto a Pipoca tem um orçamento de 100 euros por mês para gastar em chaussures, aqui a senhorita Jane Aldridge vai para a escola em cima de uns Givenchy ou de uns Marni como se nada fosse.
Como dizia acima, em termos de composição é uma mocinha do mais competente que há e desde o primeiro momento em que a vi/li, pareceu-me que se trata de uma digna sucessora de uma Anna Wintour. Pinta a jorrar por todos os lados. E uma colecção de sapatos de morrer. Tipo estes Yves Saint Laurent Cage Sandals. *cai para o lado* (Hi Jane, if for some reason you bump into this text - since it's got your name on it - and find only a bunch of portuguese gibberish, I'm only using your photo and mentioning you because I'm telling people you're awesome. Hope you don't mind, but if you do, I'm happy to edit this.)


Cupcakes And Cashmere (cupcakesandcashmere.com) - Mais uma ianque, desta feita de S. Francisco, mas exportada para Los Angeles. Gira todos os dias. O título do blog dá boas pistas sobre o seu conteúdo - moda e comida, coincidentemente duas das minhas coisas preferidas - e não é difícil constatar que ela é muito boa em ambas as coisas. Diz que o truque é cada um encontrar as suas paixões. (Hi Hilary, if for some reason you bump into this text - since it's got your name on it - and find only a bunch of portuguese gibberish, I'm only using your photo and mentioning you because I'm telling people you're awesome. Hope you don't mind, but if you do, I'm happy to edit this.)


The Sartorialist (http://thesartorialist.blogspot.com/) - Vão lá e vejam por vocês mesmos porque é que este blog é tão (o mais!) especial dentro deste género. É que, pela primeira vez, vemos que a inspiração e a criatividade estão nas ruas, não na snobeira dos ateliers.


E pronto, já vêm, que tenho trocado o sagrado pelo profano. Ontem, quem sabe se por  motivo de culpa ou mesmo saudades, lá agarrei na Teoria Estética do Adorno, mas foi como quem já se sente mal por não ir ao ginásio há 2 meses e por isso faz 6 ou 7 flexões no tapete da sala. O que é certo é que eu gosto de ler estes blogs e, principalmente, de ver estes blogs. E à medida que vou pensando no rumo que quero dar a este, mais penso que nada me obriga a ser coerente ou a ter um tema concreto. 'It's my blog and I'll write what I want to.'